Quinta-feira, 3 de Julho de 2014
A cidade de Maputo continua a ser vista como “terra de oportunidades” por muitos jovens e adultos que deixam as suas zonas de origem e demandam à capital do país em busca de melhores condições. Uma vez em Maputo, a realidade tem sido azeda para muitos, que acabam transformando as ruas e ruínas em suas moradias.
Se no passado se falava do fenómeno “crianças de rua”, hoje há um novo cenário: “adultos de rua”. Pessoas economicamente activas que fazem questão de construir cabanas, quando faltam compartimentos nas ruínas.
No histórico edifício conhecido por Vila Algarve, por exemplo, encontrámos dezenas de jovens que ocuparam todos os pisos. O cenário é de imundície e degradação. Os novos inquilinos são solidários – partilham as refeições e os utensílios de uso doméstico. Mas o que leva aqueles jovens a viverem ali? Essa é a grande questão.
João Tivane, 30 anos, um dos ocupantes da Vila Algarve, explica-se: “eu vivia com os meus pais e irmãos no bairro da Polana Caniço, até aos meus 15 anos. Mas depois saí de lá para procurar emprego na cidade. Sempre tivemos dificuldades para comer na minha casa, porque éramos muitos e o meu pai não conseguia sustentar-nos”.
Alfredo Sitóe, companheiro de Tivane, conta a sua história: “vivo na Vila Algarve desde 2002, quando saí de Chibuto, Gaza, à procura de emprego em Maputo. Aqui neste local somos quase 35. Há mulheres com bebés. Elas sustentam os filhos com o dinheiro da prostituição e os homens são polidores de carros”.
A história repete-se em muitos edifícios ocupados pelos chamados “sem tecto”. Bem próximo à Praça da Independência há um edifício cujas obras pararam. O lugar foi tomado de assalto e transformou-se numa moradia de jovens sem casa própria.